segunda-feira, dezembro 08, 2008

Tarefas, avenças e polivalências

Adoro os discursos sobre a necessidade de sermos polivalentes no local de trabalho. A "polivalência" significa tudo e não significa nada. A polivalência legitimiza a existência de trabalhadores faz-tudo, muito apropriadamente mal remunerados que, como resultado do exercício da sua actividade, poderão dizer "sei um pouco de tudo e nada em profundidade".


No mundo das polivalências, os contratos de avença e tarefa- os famosíssimos recibos verdes- foram concebidos para que o trabalhador que se encontre nesta situação saiba que deve cumprir todas as regras a que estão obrigados os seus colegas a contrato individual de trabalho sem legalmente terem direito a nenhum dos benefícios. Férias? Não. Indemnização por despedimento sem justa causa? Nope. Subsídio de desemprego, descontos para a Segurança Social? Nanã. Subsídio de férias, 13º mês? Quê?! Que é isso? Formação paga pela entidade empregadora?Oh, pá, mas afinal estamos aonde? Hum?!

Os recibos verdes lidam ainda com o fabuloso mito de que estar a recibos é fonte de grande "fortuna", que muita gente ganha pipas de massa a passar recibos. Tem graça, salvo raras excepções que são facilmente explicáveis por representarem belos "tachos", não vejo a minha geração ( a dos 30 e poucos) muito abonada.

Pois é: de facto é preciso muita polivalência... e flexibilidade! Ah, já me esquecia desta. Já agora, querem dizer exactamente o quê com esta da flexibilidade? Se eu tocar com os dedos das mãos na ponta dos dedos dos pés sou suficientemente flexível? Ou será preciso ser contorcionista e perder a "espinha dorsal"? Ou então, quem sabe, se eu flectir q.b. e formar uma cadeirinha com o meu corpo talvez se possam sentar em cima, sei lá... Ahhhh ! Esperem, não é nada disto, que disparate! :P Eu tenho que ser flexível para ignorar os "piquenos" abusos quotidianos escamoteados por tudo aquilo que não é dito mas subentendido, para fazer não sei quantas horas a mais por mês (sem receber por isso porque supostamente não tenho horário, mas afinal tenho, e se não percebem, paciência, porque eu também não), por ser testemunha silenciosa de atitudes nepotistas, má gestão e incompetência pura e simples. Pronto, agora já percebi a história da flexibilidade!

Claro que também há o velho ditado: quem está mal muda-se. Pois, mas para onde? Além disso, a esperança é a última que morre e eu, crédula como sou, vou acreditando. Acreditando que estamos cá todos para, de alguma forma que na maioria das vezes nos é imperceptível, marcarmos a diferença por mais pequena que seja.


P.S. - Votem nas diversas categorias desta fabulosa gala :)

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